A prova era de terroirs da Quinta das Carvalhas, com apresentação das colheitas mais recentes. Mas, foi muito mais do que uma prova de vinhos: foi uma demonstração da paixão de quem os produz, com o entusiasmo a dominar as palavras e os gestos de Pedro Silva Reis, Álvaro Martinho e Jorge Moreira.
O anfitrião foi Pedro Silva Reis, filho homónimo do atual presidente da empresa e representante da quarta geração da família na Real Companhia Velha. E começou por recordar como o avô acreditava que, para produzir os vinhos que queria, precisava de uvas próprias, o que era sinónimo de adquirir terras. E assim foi, com o portefólio da família a contar com cinco quintas, uma delas a das Carvalhas.
O século XVIII a marcar as primeiras referências a esta quinta do Cima Corgo, localizada entre os 200 e os 500 metros de altitude e caracterizada por uma grande diversidade de castas, incluindo 38 hectares de vinhas velhas. O que a distingue é a diversidade de terroirs: “O sítio é que marca a grande diferença”, comenta.
Álvaro Martinho, agrónomo e viticólogo, acredita que os grandes vinhos se fazem de detalhes. E recorre à linguagem matemática para dizer que “o Douro é uma equação com muitas variáveis que se podem conjugar”, considerando que fazer só um ou dois vinhos seria desperdiçar o talento da Quinta das Carvalhas. “É como uma sinfonia”, compara.
Já Jorge Moreira, que regressou em 2010 à Real Companhia Velha para assumir a direção de enologia, mostra-se contrário à tradição de segmentação existente na região: “Não acreditamos nisso, acreditamos que, se conseguirmos interpretar vem as vinhas, podemos fazer vinhos diferentes de alta qualidade.” Não se trata de vinhos perfeitos, esclarece, mas de vinhos com identidade forte.

E que vinhos estiveram à prova?
“Quinta das Carvalhas Branco 2022” foi o primeiro. E sobre ele Jorge Moreira explicou que resulta de uma ousadia – fazer um branco numa zona pensada para o vinho do Porto. Constitui um blend de 60% Viosinho e 40% de Gouveio. Oriundas de parcelas com luz, mas não exposição direta, o que favoreceu a maturação lenta que permite capturar a identidade do local.

Seguiu-se o “Tinta Francisca 2020”, uma das novidades que a Quinta das Carvalhas acaba de lançar. Resulta – sublinha o diretor de enologia – de “uma abertura de mente muito grande”. E desenvolve: “Associávamos a qualidade do Douro a vinhos intensos, concentrados e estruturados, mas percebemos que vinhos mais leves e mais frescos também seriam interessantes.”
Oriundo de dois talhões, um com exposição a norte e outro a sul, tem uvas, e não nas técnicas de enologia, a fonte da leveza e da frescura. Mantém o perfil aromático e de fruta do Douro, mas é mais elegante e delicado.

A Tinta Francisca é uma das cerca de 100 castas nativas do Douro, que Álvaro Martinho define como “um território tridimensional com um património genético único”. “As castas nativas são importantes, pois estão preparadas para fazer o seu percurso fisiológico com eficiência”, enquadra, dando conta de que, nos últimos vinte anos, a Real Companhia Velha tem vindo a recuperar mais de vinte castas. Ao todo, são vinificadas 52.
Pedro Silva Reis voltou a usar da palavra para apresentar um vinho que lhe é muito caro: o “Vinha do Eirol 2021”, mais uma das novas colheitas em prova. Resulta de uma mistura de castas, de vinhas velhas localizadas a uma altitude entre os 350 e os 400 metros, com bastante exposição solar. Esta complexidade confere-lhe um certo mistério, porquanto não há aromas lineares, ao mesmo tempo que exibe um lado selvagem, mais vegetal. Entende, pois, que “abre o leque a novas possibilidades nas Carvalhas”.

Também o “Reserva 2021” é uma das novidades. Nas palavras de Jorge Moreira, reúne uvas de parcelas de toda a quinta, “as melhores” de um “ano perfeito”, que produziu “vinhos suculentos com taninos vivos”. Com uma componente vegetal muito marcante, “é o perfil Carvalhas”.

Sobre o “Vinhas Velhas 2020”, a quinta novidade da prova, Pedro Silva Reis contextualizou que apresenta um perfil aromático muito vincado, resultando de três parcelas viradas. São – complementou Jorge Moreira – “vinhos com muita vida e energia, e uma identidade que vem da maturação”: “Só se as uvas amadurecem de forma tranquila é que têm sabores”. No final, este é um vinho de uma “qualidade superlativa”, fruto de “um trabalho de filigrana”.
