Foi em outubro de 2022 que o Obicà disse ciao a Lisboa, com a abertura do restaurante na Rua da Escola Politécnica. O conceito é o que esteve na origem da criação da marca, há 20 anos, em Italia: um mozzarella bar. E, muito embora a verdadeira mozzarella seja a estrela, a história deste espaço escreve-se com muitos mais sabores. Um destes dias, ao almoço, vivemos a experiência na primeira pessoa.
No dialeto napolitano, Obicà é sinónimo de “aqui está”. E está à vista de todos, a começar pela mozzarella que, em diferentes versões, se alinha, fresca, no bar, pronta a ser colhida para um dos muitos pratos em que brilha.
Mas, antes da degustação, há que saber como chega esta marca italiana a Portugal. O conceito estreou-se, por cá, em maio de 2021, no Porto, e desce até Lisboa pelas mãos de Pedro Galvão, que, durante os anos que viveu em Milão, era um frequentador assíduo dos restaurantes. E é no regresso que acaba por despir a pele de cliente e vestir a de sócio investidor, assumindo a franquia.
A escolha da zona do Príncipe Real não é fruto do acaso: é que, explica, o ADN da marca é cosmopolita, pelo que tem preferência por espaços com visibilidade, centrais. Não significa isto que o Obicà seja um espaço pretensioso: antes, pelo contrário, é informal, ainda que elegante.
O que Pedro Galvão faz questão de sublinhar é que este é um restaurante italiano que se internacionalizou – está também presente nos Estados Unidos, no Reino Unido e no Japão – e não um restaurante português que serve comida italiana.
Assim se explica que a esmagadora maioria dos produtos chegue mesmo de Itália. O chef residente, Luiz Minuzzi – brasileiro, com ascendência italiana – acrescenta outra razão: é que, deste modo, garante-se uniformidade entre todos os restaurantes da marca, independentemente da geografia. Também os vinhos falam italiano.
No Obicà, a carta muda duas vezes por ano, de modo a permitir que os clientes usufruam dos produtos das diferentes estações. Não é, porém, uma mudança radical, pois há alguns pratos que já são residentes, No mais, entram alguns e revisitam-se receitas.
Diz o chef que o propósito é sempre fazer brilhar os produtos, proporcionando sabores frescos e sem disfarces. Daí que alho e cebola, por exemplo, sejam ingredientes vedados na cozinha do Obicà.
Assim é desde que o napolitano Silvio Ursini, vice-presidente da Bulgari Hoteks & Resorts, criou o primeiro mozzarella bar Obicá, Estava-se em Roma e em maio de 2004 e tudo havia nascido de uma viagem ao Japão em que se rendeu aos izakayas, tabernas em que os alimentos estão expostos e são preparados à frente do cliente.
Importou, digamos assim, o conceito de partilha, pois muitos dos pratos do Obicà são pensados precisamente para uma mesa de convívio, em que todos provam tudo.
Não provámos tudo, naturalmente, mas confirmámos que os olhos também comem. A mesa encheu-se com um sortido de entradas, em que difícil era escolher: na dúvida, um pouco de cada, a começar pelo inesperado tártaro de pomodoro, com o tomate biológico bem acompanhado por straciatella de vaca. A mozzarella experience revelou-se uma combinação única de sabores, com três versões, incluindo uma fumada, porventura mais desafiante para as papilas gustativas. O contraste de texturas chegou com a tábua de enchidos, de corte finíssimo.
E, sendo um restaurante italiana, as pizzas não podiam faltar. A degustação cumpriu-se com duas: uma mais clássica, de presunto de Parma, e outra, mais invulgar, com abóbora e trufa. A massa, essa, foi um bom exemplar do estilo napolitana, fina.
Até aqui o repasto tinha sido acompanhado por um branco siciliano, do vale do Etna, que conquistou os convivas. Mas, com os secondi, era altura de os copos receberam um tinto, um Terre di Cresci 2021. Um Chianti jovem, não consensual, mas, ainda assim, uma boa descoberta.
Fez companhia a dois pratos de sabores mais intensos, o schiafonni, um best-seller do Obicá – pasta com tomate orgânico e mozzarella di búfala; e o taglioni – com gamas, lulas, e bisque.
Pode dizer-se que não havia necessidade – na verdade, não havia apetite, mas havia que provar as sobremesas, para ter uma visão completa sobre a carta. À boa maneira portuguesa, compôs-se um “pijaminha”, com tiramisu, panna cotta alla nocciola, torta caprese e semifreddo al amaretto.
Foi uma “vera” incursão na gastronomia italiana. Aqui está, o Obicà, visto pelo Farniente.
Fátima de Sousa