É às 08:00 todos os dias que a sirene toca na fábrica da Vista Alegre, em ílhavo, para assinalar mais um dia de trabalho. A 5 de janeiro, tocou como sempre, mas o toque teve um significado especial: marcou o início oficial das comemorações dos 200 anos da marca.
Esta é uma marca presente na casa de muitos portugueses. Os seus dois séculos de existência fazem com que seja muito possível que haja peças que passem de geração em geração. Uma delas pode ser o prato calendário, que a Vista Alegre lança todos os anos. E este 2024 não podia ser exceção: por maioria de razão, aliás, na medida em que evoca os momentos mais emblemáticos da marca, projetando-a no futuro.
Em porcelana, como não podia deixar de ser, é, simultaneamente, o registo da transitoriedade do tempo e da intemporalidade da criatividade e da arte. Uma arte que, nesta edição de aniversário, tem assinatura da dupla de artistas italianos Alessandro Lecis e Alessandra Panzeri.
“Duck Time” é o seu nome de batismo, não fora o pato a sua figura central. E porquê? Ave migratória por excelência, simboliza as viagens, mas também a resiliência, tendo servido de modelo aos primeiros artistas da Vista Alegre.
É o olhar do fundador – José Ferreira Pinto Basto – que acompanha o movimento temporal deste prato calendário, numa narrativa cheia de simbolismo do ponto de vista figurativo: dela fazem parte os camelos, que transportavam a porcelana para os núcleos urbanos; os bombeiros, de que a Vista Alegre teve o primeiro corpo particular; uma bola, para representar a introdução do futebol em Portugal pela marca; e os navios mercantes, que evocam o empreendedorismo comercial que está na origem da empresa.

Esta foi a primeira peça de 2024, tendo sido dada a conhecer num vídeo em que todo o circuito de produção é mostrado pelos seus “olhos”. Numa viagem sensorial, é possível acompanhar tudo o que este prato “vê” ao longo do percurso pela fábrica – da criação, a todas as fases de produção, incluindo manufatura e pintura, até ao momento em que emerge do forno e se revela. E a revelação fez-se ao som da 9.ª Sinfonia de Beethoven. Uma coincidência? Não, é que foi completada precisamente em 1824, ano da fundação da Vista Alegre.

No verso do prato calendário de 2024, uma outra revelação – a do logótipo que vai acompanhar todas as peças da Vista Alegre neste bicentenário. Criado pelo designer gráfico Pedro Cerqueira, entretanto falecido, consiste num jogo entre o 200 e o símbolo do infinito. E, como explicou o administrador Nuno Barra, no arranque das comemorações, a mensagem “é simples”: “Duzentos anos não são um ponto de chegada”, mas, sim, o tempo de receber a herança das gerações anteriores e, com ela, trabalhar para deixar a empresa mais forte, de modo a que perdure mais 200, 300 anos, “até ao infinito e mais além”.
E desse infinito faz parte a entrada em novas categorias, como a dos têxteis de mesa, em colaboração com alguns parceiros, como os Bordados da Madeira, mas também a do mobiliário, com as primeiras peças a terem traço de um estúdio de design italiano. E a serem reveladas nas feiras internacionais de Milão e Paris, que a marca selecionou para este ano, no âmbito da sua estratégia de globalização.
As comemorações, essas, prosseguem até 2025, num ano repleto de ações que incluirão um conjunto de exposições temáticas e uma mais abrangente, a ter como cenário o Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa; o de quatro selos comemorativos, e o lançamento de uma música oficial dos 200 anos, de um livro comemorativo e de uma série para televisão sobre a história da marca.
E depois das comemorações? O administrador Nuno Barra deixa apenas a nota de que, à medida que a marca se vai globalizando, obriga a novos desenvolvimentos a nível técnico, de design, de ligação a artistas: “O desafio é grande.”