Cláudio Martins é um contador de histórias. À volta do vinho, que o apaixona ao ponto de criar “vinhos do outro mundo”. E as histórias fazem todo o sentido: afinal, o consultor e fundador da Martins Wine Advisor acredita que abrir uma garrafa é abrir a porta à partilha e à criação de memórias.
O que o atrai no mundo dos vinhos?
As pessoas, a cultura, a geografia, a história, mas, acima de tudo, as pessoas.
Um vinho perfeito tem de…
Ter uma ótima companhia: por muito que tente, ainda não consigo beber sozinho, gosto da partilha, de uma boa conversa regada com um bom néctar, das gargalhadas, da velha máxima “Vou abrir agora aquela que tenho ali guardada”. Um vinho perfeito tem de ter amor, paz e paixão, tem de ter estímulo da mente.
O que precisa um vinho ter para ser do outro mundo?
Precisa de ser um planeta :), precisa das constelações alinhadas, ou seja, necessita de um bom enólogo, boas vinhas, um super terroir, uma visão conjunta com os parceiros, autenticidade, tipicidade, disrupção, criatividade, storytelling, e uma enorme qualidade no vinho, uma imagem forte, porque hoje em dia os olhos comem demasiado, uma estratégia de comunicação que roça a estratosfera, clientes que acreditem, eventos de lançamento raros e atraentes.
Tinto, branco ou rosé?
Claro que rosé, cada vez mais, há tantos pratos que necessitam de um copo, ou garrafa, de um vinho rosé.
Espere, adoro tinto, parece que um bom tinto tem o dom de falar connosco, é uma autoestrada de 12 faixas com aromas e sabores inacreditáveis, aquecem a alma, fazem-nos alegres, os brancos e os rosés também :), um bom tinto, uma boa conversa, uma música acompanhar, e uns petiscos, that’s heaven.
Mas, mais, mais, são brancos, cada vez bebo, perdão, degusto mais vinhos brancos, há tanto para descobrir nas mais variadas de castas brancas, nacionais e internacionais.
O vinho que gostava de fazer
Tenho a sorte de já o fazer, com os meus bons amigos Tiago Macena e António Martins na melhor região do País – o Dão, mas também gostaria de fazer um grand cru na Borgonha.
A primeira vez que provou vinho
Quer mesmo que lhe diga? A minha filha vai-me gozar 🙂 – aos quase 13 anos abusei demasiado na pipa do pai do meu amigo Rafael, estava tão doce o vinho que me levou para o hospital.
Vinho: primeiro estranha-se, depois entranha-se?
Vinho, primeiro aprecia-se, depois prova-se, depois saboreamos, depois gostamos ou não; hoje em dia é raro beber-se vinho mau, podemos ou não gostar, e gostos não se discutem.
Qual o vinho que mais o entusiasmou nos últimos tempos?
Vinhos antigos da região de Mosel, néctares dos deuses, sem dúvida.
Viaja para conhecer vinhos? Até onde já o levou essa curiosidade?
Viajo para me cultivar, e muitas das vezes acontece que viajei para países onde a riqueza vinícola está presente, se for eu a escolher o destino é bem provável que aconteça isso, se for a minha mais que tudo, talvez nem tanto :). A região da Crimeia.
Quantos vinhos tem na sua garrafeira?
Não tantos quanto gostaria, a máxima cá em casa é “melhor abrir caso aconteça algum terramoto ou um tsunami”.
Abrir uma garrafa “milionária” ou que é uma “antiguidade”, é um sacrilégio ou nem por isso?
De todo um sacrilégio. A vida é o presente feita do passado, e temos de aproveitar ao máximo as coisas boas que ela nos dá. Se nos der uma relíquia para bebermos, não esperemos por amanhã, juntemos antes bons amigos. Partilhamos, fazemos memórias, pois é delas que a vida é preenchida, não acha?