É a casta rainha da região da Bairrada e, por isso, tem direito a um dia internacional: assim é a Baga, que se celebra a 4 de maio. Para dar a conhecer a importância de preservar esta casta autóctone, sete produtores desceram a Lisboa por estes dias para mostrar o que manter a tradição faz pela qualidade dos vinhos.
Luís Pato, Filipa Pato, Quinta das Bágeiras, Quinta da Cavariça, Quinta de Baixo – Niepoort, Sindónio de Sousa e Vadio são os produtores que levam à letra e na prática esta missão de enaltecer a casta bairradina. Eles são os Baga Friends e a eles se deve a progressiva recuperação da reputação da Baga, bem como a também progressiva reconquista nas vinhas da região.
No evento em Lisboa, que teve como palco o restaurante Pigmeu, Luís Pato frisou, precisamente, que este movimento visa contrariar uma tendência para o abandona da Baga. “Preservar a tradição não significa apenas fazer vinho como o avô ou o bisavô, implica usar as castas locais”, argumentou.
Os vinhos em prova evidenciaram o potencial da casta. A começar pelo Especial Cuvé de 2017 da Sidónio de Sousa, um espumante que, segundo o produtor, Paulo Sousa, se distingue pela acidez natural e pela frescura. Leve, ligeiramente frutado, sem ser enjoativo, apresenta bolha fina. É o resultado de uvas vindimadas à mão, depois sujeitas a prensa e, finalmente, alvo de um estágio de dois a três meses nas borras, o que lhe confere mais riqueza.
Da Quinta de Baixo – Niepoort foi provado o Poeirinho 2020, nascido de vinhas centenárias situadas a cerca de 15 quilómetros do mar, em solo calcário. O enólogo Sérgio Silva deu a conhecer as características deste vinho certificado como orgânico e o fruto de uma agricultura sustentável, segundo os princípios da biodinâmica. Após fermentação espontânea, estagiou 20 a 22 meses em carvalho austríaco. É um Baga jovem, mas com potencial de guarda.
Já de Luís Pato foi estreado o Vinha Pan, um 100% Baga de 2015, a lançar apenas para o ano. “Fizemos bem a monda”, comentou, referindo-se a uma preocupação com a redução da quantidade de cachos na parreira. Após maturação fenólica, foi guardado em pipas de 500 litros. É um vinho “bastante redondo”, que, dez anos volvidos sobre a colheita, “ganha aromas estruturados”, a resina de pinheiro, hortelã e com influência da vegetação envolvente.
Seguiu-se o Rexarte de 2017, do produtor Vadio. Trata-se da segunda edição de um vinho de parcela única, proveniente da encosta norte da propriedade localizada entre Anadia e Cantanhede, uma zona de transição entre solo de areia e argilo-calcário. De acordo com Luís Patrão, este contexto confere-lhe elegância, mas também estrutura, com a maturação mais lenta a contribuir para que ganhasse densidade. Após um ano em barrica, a aposta é no estágio em garrafa, devido ao potencial de evolução.
Da Quinta das Bágeiras foi provado Avô Fausto, que estagiou em toneis de madeira avinhados com mais de 50 anos. As leveduras indígenas contribuíram para que ganhasse estrutura. A propósito da Baga, o produtor Mário Sérgio chamou a atenção para o facto de empresas que haviam retirado o nome da casta do rótulo o estarem a repor, o que é um passo positivo na recuperação da tradição.
Pela Quinta da Vacariça falou o produtor François Chasans, que elogiou o potencial da casta, afirmando que “para fazer um bom Baga é preciso tempo”, reconhecendo, embora, que cada um interpreta a casta à sua maneira, à semelhança do que acontece na Borgonha (França). Na sua ótica, a Bairrada é um nicho como a região de Barolo (Itália): “Não se fala de consumo, mas de emoção.” Da sua produção, esteve em prova o Quinta da Vacariça 2016, que estagiou sete anos em garrafa.
Coube a Filipa Pato apresentar os dois vinhos Baga Friends, da colheita de 2011 e 2015. São o fruto da união dos sete produtores e neles se nota o traço de cada um. O que distingue estes vinhos é o facto serem feitos apenas “quando vale a pena”. Neles se evidenciam duas componentes: a da fruta e a do terroir.
Da sua autoria chegou à mesa um espumante de 2020 que traduz a visão do sommelier, isto é de William Wouters, seu marido e proprietário do restaurante Pazzo, em Antuérpia (Bélgica).
Dia Internacional da Baga
Este foi o evento de lançamento do Dia Internacional da Baga 2024. A 4 de maio, os sete produtores abrem as portas das suas adegas, com o intuito de mostrar a tradição e a qualidade dos vinhos da Bairrada.
A oportunidade de conhecer estes vinhos envolve a aquisição de um bilhete que permite circular livremente entre as adegas das 10 às 18, sem necessidade de marcação. Em cada uma será possível falar com os produtores, degustar os vinhos e provar petiscos da região.
Este ano, serão apresentados vinhos novos e colheitas novas das marcas mais conhecidas, mas também vinhos mais antigos, alguns esgotados ou já sem distribuição. Para Filipa Pato, será o momento para mostrar a sua recém-inaugurada adega. Por sua vez, a Quinta das Bágeiras aproveita para celebrar os seus 35 anos. E Luís Pato terá uma organização de festas local para vender bifanas no local.