É desde 2018 que a Serrano Mira está na região dos vinhos verdes. Foi esse o ano da aquisição da Quinta Casa da Tapada. Desde então uma missão: fazer vinhos verdes com tempo. É nisso que acreditam o proprietário, Luís Serrano Mira, e o enólogo Renato Neves, como reforçaram na apresentação das últimas novidades.
Luís Serrano Mira lembra que é antiga a ligação aos vinhos verdes, fruto de uma amizade especial com um produtor da região. E, por isso, à mesa da família, no Alentejo, sempre houve lugar para estes vinhos.
A ligação ganha novos contornos com a aquisição da quinta, uma casa com pergaminhos, o que agradou particularmente ao produtor. “Foi a oportunidade ideal para um projeto na região dos vinhos verdes”, conta, partilhando que a quinta, em Amares, era propriedade do poeta português do século XV Francisco Sá de Miranda, que ali se refugiou quando os assuntos da corte deixaram de lhe interessar.
A primeira colheita da Casa da Tapada é de 2019, mas com uvas adquiridas localmente. Afinal, as vinhas existentes na quinta estavam abandonadas, tendo sido necessário fazer todo um trabalho de recuperação. Diz o diretor de viticultura e enólogo que, nos últimos anos, foram reestruturados 12 hectares, sendo que em 2022 foi plantada vinha nova.
A adega tem capacidade para receber 100 toneladas de uva por ano, mas a quinta não tem essa produção. “Somos um produtor pequeno e queremos continuar pequenos”, resume Luís Serrano Mira.
A visão que tem para a Quinta Casa da Tapada é muito clara: é uma interpretação da região. “Não acreditamos em vinhos verdes jovens. Queremos reforçar a ideia de que é possível fazer vinhos melhores com o tempo”, sublinha, destacando, ainda, que o intuito é produzir vinhos gastronómicos que “possam elevar uma refeição e não escondê-la”.
As novidades da quinta
Da quinta não sai, portanto, o típico vinho verde. Nas palavras de Renato Neves, trata-se de “fazer bons vinhos brancos na região dos vinhos verdes”. Uma filosofia que, segundo os enólogos, está refletida nos quatro lançamentos mais recentes – duas estreias e duas novas colheitas.

A começar pelo Capela da Tapada Loureiro, um vinho sem data no rótulo, porquanto resulta de duas colheitas (2021 e 2022), e apresentado como tendo um potencial de longevidade de sete a dez anos.
Já o Quinta Casa da Tapada Reserva 2021 é um blend das duas castas rainhas da região – Alvarinho (80%) e Loureiro (20%), que estagiou em inox até ao engarrafamento, em fevereiro último. De acordo com o produtor, se devidamente conservado (em local fresco e escuro e com a garrafa deitada), tem uma longevidade de dez a 15 anos.
Por sua vez, o Grande Reserva 2019, descrito como um vinho que “reflete bem o potencial da região”, estagiou oito meses em barrica e quatro anos em garrafa, sendo que tem uma esperança de vida de 30 anos. A proporção das castas mantém-se.
Finalmente, o Millésime 2019, feito segundo o método champanhês, é um brut nature com uma capacidade longeva de cinco anos após o dégorgement. A propósito, Luís Serrano Mira salientou que a Quinta Casa da Tapada foi o primeiro produtor de vinho verde a fazer um espumante.
Proprietário e enólogo comungam da vontade de mudar o posicionamento dos vinhos verdes. Querem, nomeadamente, desfazer a conotação com uvas verdes, desde logo porque acreditam que a região perde com vinhos jovens.