“Uma homenagem líquida à identidade e ao património cultural português”. É assim que o bartender Miguel Morais descreve a nova carta de cocktails do Mind the Glass, o espaço portuense de gastronomia e mixologia com a chancela da Vinalda.
O fio condutor da carta é a portugalidade, vista pela lenta dos provérbios populares, “pequenas grandes pérolas de sabedoria”. São elas a inspiração: “Cada cocktail é uma interpretação sensorial de um provérbio, traduzindo a sua essência através de ingredientes, equilíbrio e técnica”, realça o bartender, partilhando que, mais do que um menu, foi criada uma experiência de
degustação e descoberta, em que cada bebida conta uma história e provoca uma reflexão. É, pois, “uma carta que conjuga tradição e criatividade, com um olhar contemporâneo sobre a mixologia, sem perder o toque afetivo e nostálgico”.
Sobre a escolha dos provérbios, Miguel Morais comenta que estas expressões populares refletem não apenas a história e os costumes, mas também a forma como os portugueses pensam sentem e se relacionam com o mundo. “Ao transportá-los para o bar, para os cocktails, procurámos traduzir as emoções, as lições e até o humor que cada provérbio carrega. Assim, cada cocktail vai além do sabor: tem um conceito, um significado e uma razão de ser”, concretiza.
“Quem se queixa larga ameixa”, para o Plum It; “As palavras são como as cerejas: vêm umas atrás das outras”, para o Mon-Cherry, “Lua cheia, abóboras como areia”, a ilustrar o Slava Pumpkin, e “Água de agosto, açafrão, mel e mosto” no Hive. Ou ainda “Quem não arrisca não petisca” como cognome do What’s Up Doc.


A portugalidade extravasa os nomes e acompanha as “fórmulas”, com a exploração de ingredientes nacionais e de influências regionais. “Inspirámo-nos na riqueza dos sabores portugueses, seja através de destilados nacionais, frutas típicas, ervas aromáticas ou infusões que remetem para tradições antigas”, conta o profissional.
Quanto às técnicas, reina a contemporaneidade, desde clarificações e fat-washing até fermentações e espumas, “sempre com o objetivo de intensificar a complexidade e profundidade dos sabores”. Mas não só: Miguel Morais dá conta de “um jogo subtil entre emoção e razão, entre cocktails que são mais diretos e acessíveis e outros que desafiam o cliente a pensar e sentir de forma diferente”.
No fundo, “esta carta é uma experiência sensorial que reflete a alma portuguesa através da arte da mixologia”.
Não obstante a aposta na inovação, há cocktails que acabam por ganhar o estatuto de intocáveis: “São aqueles que conquistam o público de uma forma tão forte que quando nos visitam pedem sempre o seu cocktail mais admirado, e nós? Fazemo-lo.”
E há uma explicação, com um provérbio misturado: “Apesar de tudo somos adeptos do ‘Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades’.”