O vinho está no ADN de Luísa Vieira de Sousa: afinal, há cinco gerações que a sua família produz vinho no Douro. Não admira, pois, que aprecie um fortificado ao final do dia. Mas, e se fosse um vinho? Teria estágio obrigatório e arejamento prévio.
Foi em 2008, acaba de se licenciar em Enologia, que assumiu o negócio da família, imprimindo-lhe uma nova visão. Com orientação do pai e apoio da mãe e, a partir de 2017, a companhia da irmã Maria Eduarda. A Vieira de Sousa Vines & Wines é a materialização desse novo olhar.
Os vinhos correm-lhe no sangue?
O vinho faz parte do ADN da minha família há muitos e muitos anos. É um modo de vida ‘natural’ para a nossa família e, por isso, posso afirmar que me corre no sangue, sim! Produzimos uvas para elaboração de vinho do Porto há cinco gerações. Mais recentemente, dedicámo-nos à produção de vinhos DOC Douro.
Trabalhar com a família é mais fácil ou nem por isso?
Foi sempre a minha realidade. Acabei o curso e vim trabalhar para o Douro, neste negócio de família. Comecei com o meu pai, a minha mãe e a Maria Eduarda juntou-se anos mais tarde. Não sei se é mais fácil, sei que levamos o trabalho para casa, para os almoços e as férias de família. Acaba por ser um prolongamento da nossa vida, não há limites.
O vinho tem género?
Na minha opinião, não. O vinho é uma arte, é cultura, é história… e, nada disso tem género.
Uma mulher faz vinhos diferentes dos homens ou é um cliché?
Hum… acredito que seja um cliché. Todos fazemos vinhos diferentes, não acho que haja uma tendência para vinhos feitos por mulheres versushomens.
Tinto ou branco?
Os dois. Muito vinho do Porto, isso sim!
Tranquilo ou fortificado?
Gosto sempre de beber um fortificado ao final do dia, preferencialmente um Porto com idade.
A primeira vez que provou vinho. Que memórias?
Não me lembro da primeira vez. Lá está, o vinho sempre fez parte do meu ADN. Fui provando desde cedo, com o famoso dedo mindinho, supervisão adulta e, acima de tudo, acompanhado de literacia sobre o tema – levado muito a sério na nossa família. Mas lembro-me muito bem do momento em que comprei a primeira garrafa com o meu dinheiro e realmente apreciei um vinho. Foi uma revelação e marcou como sendo um objetivo de vida: fazer vinhos para marcar momentos, criar memórias e que perdure no tempo.
Qual o perfil de vinho preferido?
O perfil de vinho preferido… depende do momento, de consumo e em que estamos na nossa vida. Hoje digo que tem de ser um estilo despreocupado, descomplicado e multicamadas, para ir apreciando ao longo da garrafa e que dê vontade de beber a garrafa até ao fim… mesmo que não seja possível nem aconselhável.
Beber para esquecer ou para recordar?
Sempre para recordar! O vinho é, quase sem igual, um produto para partilhar, em família e amigos, e para celebrar. É igualmente uma boa companhia para momentos menos bons; benéfico, sempre que bebido com moderação. Para nós, produtores de vinho, esse é sempre o mote. Beber mais vezes, menos quantidade de cada vez.
Se fosse um vinho, como seria?
Talvez um vinho com estágio obrigatório e um arejamento prévio.
Se não fosse winemaker, o que seria?
Gostaria de ser arquiteta, de projetar e construir algo.
Que histórias contam os vinhos Vieira de Sousa?
Os vinhos do Porto, em especial, contam parte da história do Douro. É sempre curioso pensar em quem fez um determinado vinho do Porto, de onde vieram as uvas, como foram cultivadas e os blends feitos até hoje. Contam o esforço de gerações nas vinhas, do terroir fantástico, que é este Vale do Douro. Sendo mais recentes, os nossos DOC do Douro contam a minha história enquanto enóloga e a vontade que eu e a minha irmã temos de homenagear a memória e o trabalho dos nossos antepassados, preservando e deixando um legado de qualidade e respeito, da vinha ao vinho, passando pelas pessoas e pelo território.
Nos vinhos, a tradição ainda é o que era ou é preciso inovar?
Temos de ir inovando, sem nos afastarmos do que é lógico e tradicional. É engraçado que, por vezes, parece que estamos a inovar e, afinal, estamos a recriar o que antigamente era feito. É curioso ver como as modas e as tendências são cíclicas.
Fátima de Sousa