Desde 2015 que o Alentejo possui um programa de sustentabilidade dos seus vinhos. Já aderiram 22 produtores e mais estão a dar passos nesse sentido. É um caminho que o coordenador desta iniciativa, João Barroso, acompanha, convicto de que rspeitar o ambiente acaba por se refletir na qualidade. Um brinde, pois!
O que caracteriza um vinho de produção sustentável?
Um vinho produzido de forma sustentável é um vinho mais amigo do meio ambiente que, no fundo, minimiza o impacto ambiental, social e económico em todo o processo de vinificação, desde a uva até à garrafa.
No caso dos Vinhos do Alentejo, procuramos incentivar a que se olhe para a natureza como um aliado que nos ajuda a construir um futuro mais verde para todos. Assim, através do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), garantimos que os vinhos são produzidos tendo em conta os impactos associados aos consumos de matérias-primas, de água e de energia e procurando que a interação entre a vinha e a biodiversidade seja colaborativa e construtiva.
Podemos até afirmar que o PSVA, além dos notórios benefícios ambientais, traz, também, para os produtores da região assinaláveis vantagens económicas.
O que acrescenta o programa de sustentabilidade aos vinhos do Alentejo?
Ressalva-se, desde já, que esta é uma iniciativa que nasceu em 2015, e que coloca o setor vitivinícola português e, em particular a região do Alentejo, como pioneira na implementação de medidas de agricultura sustentável, tendo sido o selo de certificação de produção sustentável pioneiro em Portugal. Em novembro, lançamos a versão 2.0 com vista a elevar o patamar da sustentabilidade e continuando a colocar a região na dianteira das práticas sustentáveis.
Sabemos que a produção vitivinícola é um dos pilares económicos e sociais da região do Alentejo, mas, além disso, assume também uma importância à escala nacional, tendo vindo a reforçar o seu peso nas exportações. Portanto, melhorar as práticas agrícolas permite uma utilização mais responsável dos recursos naturais necessários à produção de vinho, tornando estes sistemas produtivos mais resilientes e adaptados às condições naturais.
É, sem sombra de dúvidas, um compromisso adicional para com o ambiente, vital para o Alentejo, historicamente uma das regiões que mais tem sofrido com os impactos das alterações climáticas, e que eleva os vinhos a um estatuto de reconhecimento internacional.
Diria que mudou a forma de fazer vinho no Alentejo?
Claro que sim e não só no Alentejo, mas em todo o país. Enquanto programa pioneiro em Portugal foi a alavanca para mudar a visão do que deveria ser a “sustentabilidade” na viticultura e na produção de vinho.
Existe, de facto, uma maior consciencialização e compromisso por parte dos produtores em adotarem medidas de produção sustentável em todas as fases do procedimento, desde as vinhas, às adegas, às garrafas. O PSVA trouxe, acima de tudo, uma maior organização, ordem e disciplina, bem como metodologias e métricas de análise que ajudam à construção de um futuro mais amigo do meio ambiente e que, simultaneamente, é uma referência para os consumidores de vários mercados internacionais.
O que ganham os produtores com a certificação?
É pelos produtores e para os produtores que este programa existe.
Além das vantagens económicas, através da poupança de água, um bem precioso no Alentejo, de eletricidade, bem como a redução de uso de pesticidas, existe já um reconhecimento internacional nos quatro cantos do mundo do selo PSVA.
Em mercados como os Estados Unidos, Canadá́, Suécia, Noruega e Finlândia, destinos onde os consumidores estão mais atentos e despertos para o modo como os vinhos são produzidos, o selo é cada vez mais valorizado e estes resultados são notórios nos últimos balanços de exportação.
Cumprir mais de 170 critérios não é uma missão impossível?
À primeira vista pode parecer um número desafiante, mas garantimos que não é impossível! Prova disso são os 22 produtores já certificados, que, junto,s representam mais de 25% da área de vinha e aproximadamente 33% do volume de vinho.
Estes números são muito significativos. Afinal, é já um quarto da área de vinha e três em cada dez vinhos que têm selo de certificação de produção sustentável, portanto, podemos afirmar que não é, de todo, uma missão impossível.
Que impacto tem a adoção das medidas do PSVA na qualidade dos vinhos?
Os produtores, quando implementam práticas mais sustentáveis em toda a produção, como a redução do uso de herbicidas e pesticidas, melhoram a vida do solo, a matéria orgânica e, claro, a biodiversidade. Por inerência, captam uma maior capacidade no solo de retenção de água e nutrientes, obtendo plantas mais saudáveis e resistentes, o que, por consequência, significa uvas de melhor qualidade. Acaba por ser uma bola de neve, porque uvas melhores potenciam vinhos de qualidade superior e, portanto, um fator de distinção perante os restantes concorrentes.
O mercado nacional está recetivo a um programa como estes?
Os consumidores ao nível global estão mais sensibilizados para questões relacionadas com a sustentabilidade e a proteção da natureza. No mercado nacional, sabemos que é um caminho que se faz caminhando, mas que, dia após dia, estamos a chegar mais perto do nosso destino!
E o internacional? Em que medida o selo de sustentabilidade é um fator de atratividade?
Ainda não conseguimos estabelecer uma correlação direta entre o PSVA e o aumento de vendas na generalidade. Mas, efetivamente, há produtores que estão a aumentar as vendas em determinados mercados e, inclusive, conseguiram entrar em países onde não tinham antes a porta aberta.
A que distância estamos de a existência (ou não) de um selo de sustentabilidade ser um fator de escolha pelo consumidor?
Acredito (e espero) que cada vez mais perto. A tendência que temos observado é precisamente que os consumidores estão a mostrar uma preferência por vinhos produzidos de forma mais sustentável, mas que sejam, também de qualidade. Além disso, estamos conscientes de que o fator preço pesa muito na balança, em particular, face ao período de inflação que enfrentamos.
A que sabe um vinho “sustentável”?
Sabe a orgulho: pelos produtores, pela região, pela viticultura. São vinhos que se bebem e que se vivem, por toda a história que está envolvida na sua produção.
Fátima de Sousa