É sabido que Bruno Aleixo é uma personagem de ficção. Nasceu como figura de animação digital, passou para a televisão e hoje vive na rádio. E dá nome a um vinho, feito em parceria com a Herdade do Rocim, que fomos provar num destes finais de tarde no Pigmeu da Ribeira, no Time Out Market, em Lisboa.
O Bruno faltou, mas João Moreira, criador desta figura ambígua, entre um cão e um peluche, marcou presença, para falar sobre este vinho entre o irreverente e o clássico, um clarete idealizado há dois anos. A irreverência acompanhou a génese deste projeto. Sobretudo no que toca à embalagem: era para ser em pacote, “para acabar com o estigma”, depois pensou-se que podia ser uma garrafa de plástico, “mas não é permitido”. Também o nome conheceu alguns ziguezagues, caindo o que Aleixo – afinal, havia outro na Bairrada – e ganhando Bruno o título de doutor.
É fruto de vinhas da Quinta da Lagoa Velha, com enologia de Pedro Ribeiro. É ele que conta que a ideia sempre foi fazer um clarete, um vinho que se bebe há 30, 40 anos e que permite retratar bem a casta Baga e a Bairrada. O Dr. Bruno é, pois, feito exclusivamente de uvas tintas, mas de cor aberta, devido à ligeira fermentação – sem maceração das uvas, é como que uma infusão.
Com os petiscos do Pigmeu a chegar à mesa, a ocasião convidava a provar mais, pelo que o enólogo deu a conhecer as novas colheitas de referência do Rocim. É o caso do Quinta da Pedragosa rosé, projeto recente em Lagos de que está já no mercado um branco e de que se aguarda um tinto. É feito de negra mole, a casta mais importante do Algarve, nascida num terroir caracterizado por vento e por solo argilo-calcário, com muita pedra. O resultado – diz Pedro Ribeiro – é “um rosé delicado, mas com alguma complexidade”.
Seguiu-se-lhe o Grande Rocim Branco 2023, a terceira edição deste vinho depois de 2018 e 2019: um 100% Arinto.
Já o Vinha da Micaela está na segunda edição – esta colheita é de 2021 e a de 2018 marcou a estreia. É, afirma o enólogo, “um dos vinhos mais importantes da Herdade do Rocim”, oriundo da mesma vinha em que foi colhido o Júpiter, um dos três Vinhos do Outro Mundo, de Cláudio Martins.
Foi ainda provado o Amphora tinto 2023, um vinho de talha tradicional, em que a fermentação se dá sem controlo de temperatura, com uma maceração ligeira – uma técnica romana exclusiva da Vidigueira.