São quatro hectares de vinha, numa propriedade de cinco, em que se cultiva elegância. É assim que António Pista apresenta o projeto que lançou, em 2020, no coração do Alto Alentejo – PistaWines, de seu nome.
Foi em plena pandemia que se lançou nesta aventura. Aliás, foi exatamente a pandemia que o impulsionou. Ligado ao mundo dos vinhos desde 2009, nunca havia imaginado ser produtor. Mas, pela circunstância de estar num momento de viragem do rumo profissional e a frequentar uma pós-graduação em Wine Business, decidiu-se a passar do papel para o terreno o projeto de final de curso.
Em Alter Pedroso (Alter do Chão, no distrito de Portalegre) encontrou a propriedade que lhe permitiria concretizar os planos. Lembrando que, na região, a disponibilidade de terrenos agrícolas é quase nula, comenta que o negócio que fez constituiu “um verdadeiro achado” – pela localização, características do solo, altitude, exposição solar, e pelo potencial vitícola que representava. São quatro hectares, mas é quanto baste: “Assim, consigo ainda controlar todas as fases do processo, mesmo em velocidade de cruzeiro”, afirma, dando conta de um objetivo de produção de 38 mil garrafas, com uma produção de oito toneladas por hectare.
Tapada da Fonte é a propriedade e é também a marca. “Como ‘tapada’ é um nome com muita história no mundo dos vinhos, com os exemplos mais marcantes a serem os dos nossos colegas alentejanos ‘Tapada de Chaves’ e ‘Tapada de Coelheiros’, naturalmente escolhemos o nome da propriedade como primeira marca a lançar no mercado”, explica.
Na vinha, com amor
Em 2022 foi feita a primeira colheita, de vinha nova plantada no ano anterior. A propósito, António Pista refuta a opinião corrente de que uma vinha precisa de três anos para começar a produzir e de seis a sete para desenvolver vinhos com qualidade: “O nosso projeto é a prova que tal não é verdade. No segundo ano da vinha, fizemos a primeira vindima e é unânime o reconhecimento de que os vinhos têm qualidade (e aí a minha opinião não interessa nada, tem que ser o mercado a comprar os vinhos).” Não é por acaso: “É fruto do trabalho que desenvolvemos na vinha e do amor que entregamos, principalmente com o acompanhamento diário do meu pai (que se apaixonou desde o primeiro dia pelo meu projeto) e que me substitui em todos os processos na vinha, com a colocação de um amor incondicional em tudo o que se faz na vinha, porque está diariamente em Alter, enquanto eu, dada a minha atividade profissional e vida familiar, estou em Lisboa.”

Emoção e paixão são os ingredientes desta história. E da produção de vinhos, como acredita António: “Hoje, em Portugal, não há motivo para não se produzir vinho bom (a enologia tem ferramentas à disposição para corrigir qualquer problema que o vinho possa ter durante o processo de fermentação), pelo que é muito importante colocar nos restantes passos do processo – viticultura, criação de marca e comercialização – um sentimento muito forte, para que o consumidor tenha a intenção de escolher o nosso vinho, entre dezenas de milhares de rótulos disponíveis.”
Qualidade é – afirma – o denominador dos vinhos com a chancela PistaWines, assente na premissa de entregar valor em todas as fases, da produção à comercialização. Mas, também na sustentabilidade e na biodiversidade, algo que – diz – guia o projeto diariamente. Na comercialização, “os vinhos foram pensados para entregar valor a todos os intervenientes da cadeia” (importadores, distribuidores, garrafeiras e restaurantes e, por fim, ao consumidor final). “E como entregamos valor ao cliente final? Apresentando vinhos que têm uma perceção de valor, superior ao custo real. Ou seja, um cliente quando compra os nossos vinhos de ‘entrada’ a 12,50€, facilmente percebe que o vinho poderia ter um custo superior, logo estamos a entregar valor ao consumidor”, concretiza.
Intervenção mínima
No que toca a sustentabilidade, a nível agrícola, há um cuidado: “Entregar mais do que retiramos. Com a certeza de que todos os anos iremos retirar uvas, procuramos ter análises periódicas da terra, para perceber alguns défices que necessitamos corrigir. Através da instalação de ninhos para pássaros, de abrigos para morcegos e de hotéis para insetos, tentamos estabelecer o máximo de biodiversidade no terreno, com a propriedade a ter já árvores autóctones estabelecidas, com dezenas de anos, principalmente azinheiras e sobreiro. Temos essa garantia, o que nos vai garantir que toda a natureza viva em comunhão e em equilíbrio”, descreve, adiantando que a prática passa pela menor intervenção possível na vinha.
Também em adega a intervenção é a mínima possível, “refletindo nos vinhos exatamente o que as uvas oferecem”. E, na fase final, são utilizadas garrafas com um peso relativamente leve (com um menor uso de vido e uma menor pegada de carbono na produção das garrafas), rótulos de papel reciclado. Além disso, não há plástico no processo, quer na cápsula (com lacre), quer nas caixas de expedição, tendo o fornecedor sido desafiado a conceber uma caixa que fechasse por si só com o cartão (reciclado e reciclável).

É assim que estão a chegar ao mercado as 14 mil garrafas da colheita de 2024. Algum vinho, no entanto, ficou em barrica, para “surpresas futuras”. A surpresa está, igualmente, reservada à expansão do portefólio: há já outras marcas registadas e projetos específicos para cada uma, que “podem ou não sair do papel”. Atualmente, são seis as referências no mercado, todas Tapada da Fonte, estando nos planos mais próximos aumentar os monocastas e lançar o Reserva Tinto, para fazer companhia ao Reserva Branco. Mas, antes de lançar novas marcas, o objetivo é consolidar o Tapada da Fonte como marca reconhecida pelo mercado”, sublinha António. E quanto a produzir noutras regiões? “Em termos de vinha, não iremos expandir para fora do Alentejo; a nível de vinho, uma parceria com um produtor de espumante da Bairrada poderia ser algo a desenvolver no futuro, mas não para já.” Ficamos a aguardar.