De fio a pavio. É assim que o enólogo Paulo Nunes descreve os quatro novos vinhos da Herdade dos Cardeais, em Estremoz. E porquê? Porque são os primeiros produzidos com o cunho da Costa Boal Family Estates.
Foi em 2020 que a empresa adquiriu esta propriedade de dez hectares e três anos depois chegavam ao mercado os primeiros vinhos – da colheita de 2019, estavam em stock, não tendo havido, pois, intervenção da Costa Boal.
Os que agora se deram a conhecer – num evento no restaurante Plano, em Lisboa – já são fruto da viticultura e da enologia da Costa Boal, como salientou o CEO da empresa, António Costa Boal. Nascidos de vinhas que oscilam entre os 15 e os 30 anos, traduzem um Alentejo “diferente”, mais fresco. “Não queríamos grandes volumes, nunca foi esse o objetivo do universo Costa Boal”, afirmou, partilhando que a empresa privilegia “pequenas quantidades, mas com valor acrescentado”.

O enólogo Paulo Nunes corrobora a diferenciação. E, em vez de Alentejo, prefere falar em Estremoz, por entender que o Alentejo é uma entidade demasiado abrangente que esconde nichos muito interessantes.
Esses novos vinhos – dois brancos e dois tintos, com as marcas Quinta dos Cardeais e Herdade dos Cardeais – refletem, pois, uma abordagem muito própria, de quem, embora sendo enólogo, passa mais tempo na vinha do que na adega. “São vinhos pensados na viticultura”, resume, enfatizando o corte com a filosofia do anterior projeto, focado no volume. O que a Costa Boal introduziu na herdade foi – nas suas palavras – “um retrocesso” no que toca aos sistemas de poda, com menos produção, mas também com menos influência da rega. “Foi preciso readaptar as plantas”, sintetizou, considerando que é quase um projeto contranatura para a região”.
Para a diferenciação contribui, igualmente, o terroir, que Paulo Nunes descreve como “muito específico”, desde logo porque as vinhas crescem em solo de transição entre xisto e mármore, o que condiciona o ciclo de maturação.
Sobre os novos vinhos, não tem dúvidas: “Sente-se que pertencem ao universo Costa Boal.”
E que vinhos são esses? À prova chegou primeiro o Monte dos Cardeais Reserva Branco 2023, um blend de Chardonnay e Antão Vaz. Vindimadas manualmente em caixas de 20 quilos, as uvas sofreram fermentação em cuba de inox, terminando em barrica, com estágio sobre borras finas por seis meses. Foram produzidas 3333 garrafas.
Seguiu-se o Quinta dos Cardeais Grande Reserva Branco 2022: Arinto, Antão Vaz e Roupeiro são as castas presentes num vinho que Paulo Nunes descreve como “um todo o terreno”. A fermentação iniciou-se em cuba de inox e terminou em barrica, onde estagiou sobre borras finas por 18 meses. Uma produção para 2333 garrafas.
No que toca aos tintos, o Monte dos Cardeais Reserva Tinto 2020 é um blend de Alicante Bouschet e Syrah de que chegam ao mercado dez mil garrafas. Envelheceu em barricas de carvalho francês de 225 litros e de 400 litros durante 16 meses.
Menor é a produção do Quinta dos Cardeais Grande Reserva Tinto 2020: 3333 garrafas. Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot são as castas que contribuem para este vinho, que envelheceu em barricas de carvalho francês por 18 meses.
A Herdade dos Cardeais foi a última entrada na família Costal Boal, com os seus dez hectares a darem forma ao projeto mais pequeno da empresa. A propósito, António Costa Boal lembrou que, quando em 2005, assumiu a gestão eram apenas sete hectares: hoje são quase 80, divididos pelo Douro, Trás-os-Montes e Alentejo.