É caso para dizer que o nome não engana: Francisco Bento dos Santos, diretor-geral da Quinta do Monte d’Oiro, é filho de José Bento dos Santos, figura reconhecida no mundo da gastronomia e dos vinhos. Mais do que gestor, diz-se capitão de equipa – de rugby, o seu desporto de eleição. Já nos vinhos, coloca no pódio o tinto da colheita inaugural, há quase 30 anos.
A pergunta inevitável para começar: tal pai, tal filho?
A resposta inevitável e… evidente J: pelos vistos, sim! Nunca fui forçado ou sequer ‘empurrado’ para nada, mas a verdade é que tirei o mesmo curso superior na mesma faculdade e, depois de outras experiências profissionais, acabei no mundo do vinho. E o rugby, sempre.
Da engenharia à vitivinicultura. É um engenheiro de vinhos?
Sou um engenheiro a gerir uma (pequena) empresa vitivinícola. Mas, gosto mais de me definir como o capitão de equipa (somos precisamente 15 pessoas!): jogo como os outros, placo, corro, marco – e sou o único autorizado a falar com o árbitro.
Os vinhos do Monte são de Oiro? O que os define?
São, pois! Vinhos que exprimem com coerência o terroir onde nascem, frescos graças à proximidade atlântica e muito gastronómicos.
Um vinho tem mais a mão do enólogo ou da natureza?
Depende se falamos de um vinho mais corrente ou de um grande vinho. Num grande vinho, diria que a natureza (o solo, as videiras, o ano climático) será responsável por, pelo menos, 50% do resultado final. Depois, a mão humana é fundamental. Idealmente não ‘estragando’ aquilo que a natureza gerou. Mas não estragar não é fácil e dá muito trabalho!
Qual o vinho que falta fazer na quinta?
O que resultará do ciclo vegetativo que está agora a iniciar-se! Todos os anos voltamos ao início e começamos tudo de novo.

O preferido do portefólio e porquê?
Não é uma resposta politicamente correta, mas sinceramente não consigo eleger um. Todos são especiais e têm o seu lugar e desempenham o seu papel. E sabe-me muito bem bebê-los todos, na ocasião adequada, claro. Ainda assim e tendo em conta ser um lote de várias parcelas, representativo do nosso terroircomo um todo, o tinto Quinta do Monte d’Oiro Reserva é incontornável. E foi o primeiro vinho que elaborámos, há quase 30 anos (a colheita inaugural foi em 1997).
Monocasta ou blend?
Blend… da mesma casta! (o caso do QMdO Tinto e do Reserva Tinto – ambos um lote de várias parcelas de Syrah)
Mais mineral ou mais frutado?
Mineralidade!
Com comida ou a solo?
A acompanhar a refeição.
O vinho é um prazer?
Sem dúvida! Mas também uma dor de cabeça… 😅
As primeiras memórias deste mundo.
Cheirar grandes vinhos franceses (Bordéus, Borgonha, Rhône), procurar no Robert Parker (guia físico, era preciso folhear um calhamaço!) a respetiva Nota de Prova e tentar descobrir os descritores aromáticos que o ‘papa’ dos vinhos elencava.
Dos vinhos que já provou, qual o que mais o deslumbrou?
Hermitage La Chapelle, do Paul Jaboulet, bebido no Alain Pic a acompanhar uma enorme trufa negra envolta em massa folhada.