Hoje é o Grande Real Villa Itália, mas, há cerca de um século, foi residência de Humberto II, o último monarca italiano. E é esta história que é celebrada no restaurante Belvedere, palco de algumas das receitas de eleição da Casa de Saboia, servidas com história(s).
Mas, antes da prova, há que deixar o olhar perder-se na decoração da sala principal do restaurante, um ambiente onde predominam o branco e o azul, com apontamentos de azulejos bem portugueses. A luz é rainha neste espaço com 36 lugares, entrando pelas amplas janelas que deixam antever o oceano.
Uma alameda de verde, composta por plantas naturais, conduz ao terraço – o belvedere propriamente dito, com a balaustrada praticamente debruçada sobre o mar.
É aí que os olhos são atraídos para as propostas com que Luís Sousa, o chef executivo do hotel, se propôs recriar as preferências de Humberto II, conhecido por ser um “bom garfo”. Tendo como ponto de honra preservar a ligação afetiva e gustativa do rei, a pesquisa do chef conduziu ao conjunto de receitas e de ingredientes que dão forma a uma carta que serve clássicos da cozinha italiana com um toque de contemporaneidade e produtos locais. E, para que não haja dúvidas sobre os “especiais”, são assinalados com o símbolo da monarquia – uma coroa. E alguns deles são finalizados à mesa, com uma dose de mestria da equipa de sala.
O próprio menu é um documento histórico, por assim dizer, merecedor de atenção e de leitura – nele se contam estórias da história que liga Cascais à Casa de Saboia.
Neste almoço, entregamo-nos nas mãos do subchefe Ricardo Camacho, que começou por levar à mesa Bagna Càuda, uma receita quente do Piemonte à base de alho e anchovas, acompanhada por crudités. Seguiu-se o Fritto Misto, com vegetais envoltos em polme e fritos até ficarem bem estaladiços. Duas propostas “coroadas”.
Nos principais, outro preferido do rio – Peixe do dia com molho de alcaparras, sendo que, neste dia, as honras couberam ao pregado. Reza a história que este prato foi servido no casamento de Dona Maria Pia e D. Luís I, rei de Portugal, em 1862, tendo-se tornado um clássico do receituário da Casa de Sabóia.
Outro prato com história é o Paccheri al Pomodoro: massa com molho de tomate e finalizada à mesa, uma oportunidade para acompanhar o processo de mantecatura, uma técnica comum no risoto e que consiste em misturar bem para obter uma melhor cremosidade. Esta é uma receita que remonta a 1980, tendo sido idealizada por Vittorio Cerea, um dos fundadores do restaurante da Vittorio, num três estrelas Michelin na Lombardia.
E podíamos ter ficado por aqui, não fora a tentação assumir a forma de Cotoletta “Orecchia d’Elefante”: extraída das primeiras seis costelas das vitelas de leite, é pensada para duas (ou mais…) pessoas, surpreendendo pelo sabor conferido pela manteiga clarificada. O ritual do corte à mesa antecipa o prazer. A acompanhar uma sala de funcho e laranja e um risotto cremoso.
E como resistir à sobremesa? Impossível. Ainda mais sabendo que esta Cassata Siciliana foi servida com pompa e circunstância no casamento do próprio Humberto II, com Maria José da Bélgica.
Porque é um ristorante, os vinhos – com curadoria de Rudolfo Tristão – só podiam ter sido italianos. Primeiro, um espumante rosé – Berlucchi’61, 60% Pinot Noir e 40% Chardonnay, de Franciacorta. Seguiu-se um branco de 2022 – Gavi, do produtor Pio Cesare, da região de Alba. Para a costoleta, o tinto Pasqua Romeo & Juliet Passimento, um blend de Merlot, Corvina e Croatina da região de Veneto. E, por fim, Damijan Prelit, um blend de Merlot e Cabernet Sauvignon de Monte Calvario.
Tudo com o privilégio de antecipar um dos planos do Belvedere – abrir aos almoços –de sexta a domingo, sendo que, para já apenas ao jantar, nos sete dias da semana.