O Portfolio Tasting 2025 da Real Companhia Velha, que decorreu na última semana de fevereiro em Lisboa e no Porto, serviu uma convicção: a de que o terroir é que manda. E tem sido esta convicção que tem conduzido os caminhos do produtor duriense, com afirmação maior na Quinta das Carvalhas.
Álvaro Martinho Lopes, diretor de Viticultura, Jorge Moreira, diretor de Enologia, e Pedro O. Silva Reis, enólogo, foram os guias desta viagem à identidade dos vinhos da quinta e dos lançamentos mais recentes.
Foram de Pedro Silva Reis, cujo apelido antecipa que é membro da família Silva Reis, que detém o controlo da empresa, as primeiras palavras do evento, para enquadrar o papel que a Real Companhia Velha tem desempenhado na dinamização dos vinhos Douro DOC. Sendo uma empresa com um passo dedicado à história do vinho do Porto, soube escrever novos capítulos da sua própria história inspirados pelo potencial do terroir. De uma análise mais profunda do terroir resultou a identificação de parcelas mais interessantes para a produção de Douro DOC do que para Porto: assim é, nas quintas em altitude, terreno fértil para vinhos mais elegantes, mais frescos e com maior acidez.
A Quinta das Carvalhas, que está na empresa desde 1953, é um desses tesouros do terroir duriense: dos 500 hectares de área total, apenas 140 são de vinha, que vive em harmonia com bosque, olival, hortas, pomares e jardins, numa grande biodiversidade.
Deste contexto nasceram as cinco novas colheitas que foram dadas a conhecer (e a provar) neste evento. Primeiro, o Quinta das Carvalhas branco 2023, descrito por Jorge Moreira como “um vinho altamente improvável no passado”. Nasce em 2010, com a identificação de que a vinha a 500 metros de altitude com exposição norte reunia as condições para fazer “grandes brancos”. Com Gouveio e Viosinho e, este ano, algum Arinto. Trata-se de “fazer um branco à semelhança dos tintos, que não seja demasiado exuberante, mas, sim, contido, ainda que com um lado mais misterioso”. Mais vegetal, mas também assente em fruta generosa, ganhando intensidade na boca, mas, depois, ficando delicado e persistente. O estágio aconteceu em barricas usadas de carvalho francês, chegando ao mercado 14 mil garrafas.

Foi também em madeira usada, mas pelo dobro do tempo (12 meses) que estagiou o Tinta Francisca 2021. O potencial desta casta vem ao encontro de uma procura crescente por vinhos mais leves: nesta nova colheita, assume um perfil elegante, de taninos suaves, mas com aromas típicos do Douro – frutos do bosque, amora madura e ligeiras impressões vegetais.

O terceiro vinho a chegar ao copo é particularmente do agrado de Pedro Silva Reis: afinal, é proveniente do Eirol, uma vinha que descreve como fabulosa e que remonta a finais da década de 1920. Apresenta uma tal diversidade de castas que desafiou as técnicas de vinificação, com apenas 30% dos cachos desengaçados e esmagados. O estágio fez-se em foudres, isto é, em grandes toneis, com o resultado a ser um tinto de cor granada pouco concentrada, com um lado herbáceo.

Seguiu-se o Reserva 2022, apresentado como “um vinho clássico e emblemático, que representa as Carvalhas como um todo”. “Temos a sorte e o privilégio de trabalhar com vinhas que estão em cotas baixas e com vinhas que estão, por exemplo, a 400 metros acima do nível do mar, com vinhas expostas a norte e outras expostas a sul”, narrou Pedro Silva Reis, para demonstrar a valia desta conjugação de altitudes e de exposições. São 25 mil as garrafas disponíveis.

Finalmente, o Vinhas Velhas 2021, um vinho “complexo e difícil de definir” aos olhos de Jorge Moreira. As uvas passaram por pisa a pé em lagar de granito, com uma extração suave, mas constante, com o estágio a decorrer em barricas de carvalho francês, 20% das quais novas. Na origem, estão três parcelas de vinhas velhas, com Pedro Silva Reis a partilhar que “para manter o perfil qualitativo deste vinho não se pode aumentar a produção”, não se pode, nomeadamente, estender a outras parcelas. A decisão tem sido, pois, a de manter estas três vinhas, como prova de que “o terroir é que manda”.

O Portfolio Tasting 2025 constituiu, ainda, uma oportunidade de provar algumas amostras de barrica da colheita de 2024, sobre cujo futuro – se são engarrafadas ou não – a enologia ainda não se pronunciou.
Do mesmo modo, foi uma oportunidade para ouvir o diretor de Viticultura sobre o trabalho que tem sido desenvolvido na Real Companhia Velha e, em particular, na Quinta das Carvalhas ao nível da sustentabilidade.
Fátima de Sousa