A Semana da Cozinha Italiana no Mundo, promovida pela Embaixada de Itália em Lisboa, foi o pretexto para (mais) uma visita de Mario Iacarrino, filho dos fundadores do estrelado Don Alfonso 1890, em Sant’Agata sui due Golfi E foi a oportunidade perfeita para ficar a conhecer a(s) história(s) desta família e para desfrutar da experiência gastronómico do restaurante homónimo em Cascais.
E há muito para contar. Mario, que, desde 2020, partilha a gestão do projeto com o irmão, Ernesto, e com os pais, é um narrador entusiasta, partilhando episódios com uma vivacidade tal que transporta para esses momentos.
Esta história começa em 1890 quando Alfonso Costanzo Iacarrino, o bisavô, abre a Pensão Iacarrino naquela pequena localidade do sul de Itália, entre dois golfos como o nome testemunha. Estava lançada a semente daquele que viria a ser um hotel de luxo, com créditos elevados entre a aristocracia italiana.
Novo capítulo desta história se escreveria quando Alfonso e Livia Iacarrino, os pais de Mario e Ernesto, decidiram afastar-se do negócio da família para dar corpo ao sonho de abrir um restaurante próprio. Estava-se em 1973, mas a história não foi esquecida e como Don Alfonso 1890 foi batizado.
Foi neste ambiente que Mario cresceu, ali trabalhando nas férias e protagonizando algumas peripécias que conta à mesa do Don Alfonso 1890 Cascais, o seu primeiro restaurante na Europa à margem da casa-mãe. A hospitalidade desenhava-se, desde cedo, como o seu destino. Um destino que ia sendo confirmado ao ritmo das experiências vividas após o ensino secundário – em Inglaterra e em França, primeiro, depois na Suíça, para estudar na escola de Genebra e trabalhar em Zurique, mais tarde na Alemanha, por três anos. E, de novo, em Genebra, onde assumiu dois restaurantes antes do apelo do regresso a Itália.
Poderia ter seguido outro caminho? Poderia. Poderia, por exemplo, ser fotógrafo. “Mas felizmente foi o que sempre quis”, comenta, desfazendo quaisquer dúvidas.
Em Sant’Agata, e agora também em Cascais, o que move Don Alfonso é oferecer cozinha mediterrânica autêntica, moderna, mas honrando as tradições. E com uma missão muito especial: servir comida que traga benefícios para o corpo. Comenta, aliás, que é uma missão, que se materializa, nomeadamente, na escolha de ingredientes orgânicos.

Rejeita a ideia de ser um restaurante de fine dining, não obstante a sofisticação dos pratos e do espaço. Pelo contrário: Mario Iaccarino diz que privilegia um ambiente intimista, calmo, em que os clientes possam desfrutar da experiência. Porque – diz – os clientes estão no topo da escala, já assim era em 1890.
É Andrea Astone o maestro destes primeiros tempos em Cascais, E o que serve respeita a filosofia original, trazendo à mesa receitas que bebem no património culinário da província de Sorrento, onde tudo começou.
Robalo enrolado com couve em molho putanesca inaugurou o menu. Seguiu-se Ricciola: lírio fumado, puré de ervilhas cremoso com maionese perfumada de alho cítrico, iogurte e infusão de cebolinho.
Com estes dois pratos, ficou claro que a promessa de ingredientes frescos e de sabores legítimos estava cumprida. Mas, havia um clássico à espera; vitello tonatto, o mesmo é dizer vitela assada lentamente com um molho cremoso de tonnata (à base de atum e anchovas), salada crocante e bottarga (ova de atum) ralada.



A pasta não poderia faltar e marcou presença com Spaghetti, porventura o prato mais simples do almoço, mas certamente um dos pratos de assinatura: uma seleção de esparguete artesanal Don Alfonso com coulis de tomate e manjericão, queijo parmesão ralado e uma pitada de limão fresco.
Como secondo, chegou Dentice al Guazetto: pargo em caldo com pão de ervas e brunoise (um corte em pequenos cubos) de legumes.


De imprevisto, e porque o apelo da pizza napolitana falou mais alto, a ordem dos fatores é alterada, para se provar uma fatia. Uma apenas porque havia uma sobremesa irresistível à espera: Babá Napoletano, embebido em rum como se quer, com creme e bagas frescas.


O Cutizzi Riserva Greco di Tufo 2020, um brando do produtor italiano Feudo di San Gregorio (Campania), foi a companhia perfeita para este almoço. Fresco e aromático, equilibrado na acidez, exibe notas de amêndoa, anis e limão, com alguma mineralidade.
No final, é caso para dizer: piacere em conhecer-te, Mario Iaccarino, e piacere em provar-te Don Alfonso 1890 Cascais.
Fátima de Sousa