O convite era para uma prova vertical de Tannat. Para quem aprecia vinho, mas é propriamente especialista, como eu, o desconhecimento da casta foi mais do que suficiente para aceitar. Celebrar os 25 anos de Luís Vieira à frente da Quinta do Gradil era o pretexto, mais do que justificado.
O restaurante Federico, no Palácio Ludovice, em Lisboa, foi o cenário escolhido para a prova – afinal, trata-se de um wine experience hotel, pelo que fazia todo o sentido. As boas vindas foram dadas com um espumante brut nature do Gradil, a acompanhar o primeiro momento da refeição – tártaro de salmão, carpaccio de bacalhau, e shot de meloa com hortelã.
A conversa entrava, deste modo, nos preliminares, tendo como anfitriães, além de Luís Vieira, o enólogo consultor do grupo Parras, António Ventura, e a enóloga do Gradil, Ana Penha. Não era uma conversa gastronómica, mas, sim, para dar a conhecer o caminho que conduziu a que o Tannat se tornasse na casta ícone da quinta.

Foi em maio de 1999 que Luís Vieira adquiriu a Quinta do Gradil, no Cadaval. Recorda desses tempos 80 hectares de vinha maltratada e, em particular, 20 com castas improváveis, como Alfrocheiro, Viosinho e… Tannat.
Esta é uma casta que tem as suas origens no sudoeste de França, na comuna de Madiran. Mas, reina igualmente no Uruguai, onde detém, aliás, o estatuto não oficial de casta nacional. A propósito, o enólogo António Ventura faz notar que tem um comportamento distinto consoante o terroir e que a do Gradil não se assemelha à Tannat do velho mundo, nem à do novo mundo, ficando a meio do perfil. A isso se deve o terreno argilo-calcário e de exposição nascente em que está implantada.
“É uma das castas que mais acarinhamos”, comenta. O que não invalida que seja uma casta “difícil”, nomeadamente no que toca à maturação fenólica, sendo preciso um cuidado adicional na monda para se evitar o amargor vegetal.
Mas, o enólogo sempre acreditou na casta e, em 2009, decidiu engarrafá-la pela primeira vez. Mas, depressa descobriu que, pelos taninos e pela complexidade aromática, o vinho necessitaria de um bom estágio em garrafa.
A prova mostrou que estava certo: este Tannat 2009 foi servido no último momento da refeição, a acompanhar harmoniosamente com bolo de chocolate de São Tomé com sorbet de framboesa.
Arriscar besta casta diferenciadora compensou e, a este ano de estreia, seguiram-se seis colheitas – 2014, 2015, 2016, 2018, 2019 e 2021. Esta última está no mercado e a próxima, de 2002, espera o seu tempo em garrafa.
De volta á prova vertical, serviu-se primeiro o Tannat 2019, na companhia de tártaro de atum, maçã Granny Smith e manjericão. Das notas descritas emerge a identificação de uma boa integração entre madeira e fruta, com taninos ainda firmes.
O Tannat 2018 – uma exceção, pois este foi um ano com alguma pluvisiosidade e os demais apresentaram temperaturas médias elevadas – mostrou-se mais redondo na boca, com uma componente frutada exuberante e um teor alcoólico superior. No prato, carpaccio de vitela, maionese, tonnato e alcaparra.
Para o magret de pato, puré de batata doce e legumes foi escolhido o Tannat 2015, um vinho que assinala o último ano em que ainda incorporou 15% de Touriga Nacional. Nascido em tempo de ondas de calor, evidencia bem o teor alcoólico. É dos mais vegetais dos que estiveram em prova, com a intensidade a refletir-se na cor violeta.
Nas duas primeiras colheitas, a casta surgia em blend, mas, a partir de 2015, este vinho foi assumido como monovarietal. Aliás, até 2021, era o único monovarietal Tannat da região.
Além do perfil da casta, expressa o carácter atlântico do tersoir – é que a Quinta do Gradil localiza-se entre a Serra de Montejunto e o mar.
Com sete séculos de histórias – as referências mais antigas remontam a 1492 –, abrange 200 hectares, sendo 120 plantados com vinha.
Fátima de Sousa