É em Alenquer, na região de Lisboa, que fica o epicentro da Cas’Amaro. E foi, por isso mesmo, em Alenquer que foram apresentadas as últimas novidades deste produtor de vinhos a caminho da primeira década de vida: dois tintos Implante, os primeiros da Herdade do Castelête, em Estremoz.
A localização foi duplamente simbólica, na medida em que Alenquer acolhe, igualmente, o embrião do projeto de enoturismo da empresa: a Cas’Amaro Wine Villa, erguida no edificado que outrora fora a adega do Casal da Vinha Grande. Com prémios de arquitetura no currículo, desdobra-se em apenas três suites, cada uma com um nome de batismo muito especial – Arinto, Bastardo e Sercial, três castas acarinhadas por esta casa. Um túnel conduz da sala principal a cada uma das suites, encimadas por uma piscina com vista para a Serra de Montejunto.
Foi o balão de ensaio para a ambição do grupo em termos turísticos, uma ambição de que é guia o diretor-geral, Rui Costa, e que, até final do ano, dará frutos no Alentejo. Na herdade, com 70 hectares, vão ser aproveitadas algumas construções e delas nascerá, após um investimento estimado em milhão e meio de euros, um boutique hotel. Serão 20 a 22 quartos, num projeto de inspiração japonesa e em que o vidro será o principal elemento da construção, de modo a permitir uma comunicação permanente com a natureza. Jardins de inverno vão envolver as diversas unidades.
Do Alentejo, o enoturismo do grupo Amaro vai subir à região dos vinhos verdes. Numa aldeia de Marco de Canavezes, um solar que, durante três séculos, foi casa senhorial receberá, agora, oito suites de luxo.
A visão é de médio prazo, pelo que novos projetos estão no horizonte. Acompanhando a presença do grupo em cinco regiões vitivinícolas, a saber Lisboa, Dão, Douro, Vinhos Verdes e Alentejo. São 70 hectares de vinha, mas Rui Costa ressalva que a intenção não é vinificar todo este potencial, mas, antes, apostar em pequenas propriedades, de cinco a dez hectares, e em cada uma delas valorizar as castas nativas.
“Procuramos não ir ao óbvio. É claro que, em Lisboa, temos Arinto, mas interessam-nos Bastardo e Camarate, por exemplo, que são castas que já tiveram expressão e que permitem fazer vinhos distintos”, afirma, com este argumento a justificar a aposta na Sercial. “Somos dos poucos produtores da região que faz varietais com esta casta”, comenta, a propósito. Vinhos com aportes calóricos mais reduzidos e com menos teor alcoólico fazem, igualmente, parte da abordagem, o que tem aberto portas no estrangeiro.
O que é que o Implante tem?
Este caminho começou a ser percorrido em Lisboa, mas no Alentejo dá já passos sólidos, traduzidos nos dois vinhos agora lançados. “Expressam muito bem o terroir de Estremoz, mas não são os alentejanos mais tradicionais”, ressalva, concretizando que são dois tintos “de alguma forma disruptivos” pela frescura, pela acidez, pelo álcool (menor do que o habitual) e pelas castas.
Coube ao diretor de enologia, Ricardo Santos, fazer as honras da prova do Implante Tinto 2022 e do Implante Tinto 2023, ambos DOC Alentejo.


Aragonês (20%), Castelão (40%) e Trincadeira (40%) são as castas reunidas no de 2022, vinho parcialmente envelhecido em barricas de carvalho usadas enquanto a outra parte permaneceu em cubas de inox. É descrito como ostentando uma cor rubi intensa, aroma de frutos vermelhos maduros e notas de caramelo. No paladar, a enologia atribui-lhe atributos como elegância e taninos sedosos. Ao mercado, chegam 6600 garradas.
Menor é a quantidade disponível do tinto de 2023: quatro mil. A Tinta Caiada tem o exclusivo das castas neste vinho, vinificado apenas em inox de modo a garantir frescura e a maior pureza possível. Vindimado em setembro, foi engarrafado em junho de 2024, tendo estagiado depois seis meses, o que permitiu “domar algum tanino”. É, explica Ricardo Santos, um vinho que se pode beber jovem.
E de onde vem o nome Implante? O diretor-geral da Cas’Amaro explica que houve necessidade de restruturar a vinha existente na Herdade do Monte do Castelête, para a adequar aos princípios de respeito pelas castas autóctones e ao modo de produção biológico. Assim, houve vinhas revitalizadas através do método de enxertia e novas vinhas plantadas. Estava implantada a ideia para os primeiros vinhos alentejanos do grupo.