“Fomos à procura de matérias-primas e encontrámos pessoas”. As palavras são do cofundador da VEJA Sebástien Kopp, na sua primeira vez em Lisboa para falar da marca de ténis que nasceu como uma aventura há 20 anos.
A sustentabilidade é o fio condutor desta história que Sebástien partilha com François-Ghislain Morillion. Ambos franceses, tinham, em 2005, 24 anos. E um propósito: o de uma marca “diferente” que respeitasse o ambiente.
“Era um objetivo inocente, completamente adolescente”, comenta o cofundador, aludindo ao facto de, nessa altura, poucas marcas de moda – “e de ténis muito menos” – estarem imbuídas desta preocupação com a sustentabilidade.
Foi com este objetivo que aterraram no Brasil, numa viagem em busca de matérias-primas que correspondessem a este ideal. Foi na Amazónia que se depararam com as comunidades de seringueiros, que moram, trabalham e, acima de tudo, protegem a floresta. “Dissemos-lhe que queríamos conhecer o que fazem, que queríamos trabalhar juntos”, partilha Sebástien. Foi assim que acompanharam “o caminho do seringueiro”, que os leva de árvore em árvore para extrair o látex.
“Compramos a borracha a um preço completamente desconetado do mercado”, afirma, justificando que, deste modo, a VEJA quer evitar que as árvores sejam abatidas para dar lugar à criação de gado, mais rentável para os locais.
A mesma filosofia se aplica ao algodão orgânico, com a empresa francesa a trabalhar com agricultores do nordeste brasileiro (e do Peru), aos quais paga – diz o cofundador – “duas a três vezes acima do mercado”.


Com a produção centrada no Brasil, a história da VEJA passa também por Portugal, onde produz alguns dos seus modelos desde há dois anos. Só no primeiro ano, foram produzidos 80 a 100 mil pares de ténis.
Rejeitando ter fornecedores em países com modelos de trabalho que roçam a escravatura, assegura que a dignidade é um propósito que acompanha o da sustentabilidade. Assim é, nomeadamente, na empresa de logística, que gere o e-commerce e a rede de lojas, e que emprega pessoas com necessidades sociais, como ex-reclusos.
“Cuidados da cadeia de valor, das matérias-primas às pessoas. A nossa empresa é baseada na realidade, não na artificialidade, no Instagram ou nas celebridades”, enfatiza Sebástien Kopp.
Fátima de Sousa