Almoçar à beira mar é sempre um convite irrecusável. Sushi nem tanto (pelo menos, para quem escreve este artigo). Mas o que chegou à mesa do Well, em Vale de Lobo, desvaneceu as dúvidas, proporcionando uma refeição saborosa num ambiente acolhedor. Com o bónus de um dia soalheiro em pleno outono.
O ambiente remete de imediato para Bali. Afinal, o restaurante insere-se num beach club em que saltam à vista as camas balinesas, colocadas estrategicamente em volta da piscina, com a praia como moldura.
Em novembro, estão naturalmente em pausa. À espera dos merecidos cuidados para o regresso ao ativo nos meses de verão, acolhendo sobretudo os residentes e hóspedes do aldeamento algarvio, mas de portas abertas a outros veraneantes. Há um valor a pagar para entrar neste espaço de dolce fare niente a funcionar desde 2021.
O restaurante, esse, não tem intervalo. Funciona o ano inteiro, servindo almoços e jantares debruçados sobre o areal. Com capacidade para acolher 100 pessoas no interior, fez do sushi a estrela, mas agrada igualmente a quem prefere os sabores mediterrânicos. A cozinha está nas mãos do chef João Paulo Lopes, mas na confeção das peças japonesas manda a arte de Tiago Torres.
E o que propõe é que confiem nele. Afinal, no centro da carta do Well, embora os pratos possam ser pedidos individualmente, está a experiência omakase. E omakase radica no verbo “makaseru”, que significa confiar. Gastronomicamente, significa deixa-se levar pelas escolhas do chef.
O que, neste restaurante, corresponde a uma viagem em dez momentos. Antes, porém, de a iniciar, houve tempo para degustar duas entradas que fogem a este guião – os croquetes de couve flor com queijo ralado e os croquetes de alheira.
Só depois começou o desfile nipónico: guiosas de frango e vegetais; hot Philadelphia, ou seja, um rolo crocante com salmão, tobiko, cream cheese e teriyaki; black tiger crispy, isto é, camarão tigre envolto em amêndoa e com molho de weet chili. Seguiram-se o tiradinho de lírio com kimchi, raspa de lima e ovas de yuzu, e tuna tataki, ou seja, atum com especiarias, sate, azeite com ponzu, maionese japonesa e tobiko. À mesa chegaram ainda o pani bomb – pani puri com manga, peixe branco, ovas de yuzu e maionese de kimchi – e o chimi chimi – camarão tempura acompanhado de espargos grelhados envolvidos com atum braseado e molho chimichurri.
Os créditos do Well não ficam confinados à cozinha. No bar dá cartas Jairo Sousa, autor de uma vasta seleção de cocktais em que têm lugar de honra os moscow mules. E autor ainda da fresca sangria de maracujá com que se foram enchendo os copos ao longo do almoço.
Do lado de fora, as balinesas foram testemunhas desta experiência, deixando um convite mudo a um regresso quando as estações cumprirem a sua rotação.
Fátima de Sousa