Entrar num restaurante nepalês e ver as mesas ocupadas por nepaleses só pode ser bom sinal. Não estamos em Katmandu, mas em Lisboa, pelo que é ainda um melhor sinal. Assim é no Diyalo, que Rabin Adhikari abriu no Martim Moniz em 2016.
O restaurante não é novo, mas o espaço foi renovado e foi pretexto mais do que suficiente para a visita. E para comprovar que a escolha do nome é perfeitamente adequada.
Conta o empreendedor nepalês que, na sua língua natal, “diyalo” se refere à resina do pinheiro usada para alumiar as lamparinas tradicionais ou mesmo para velas. Simbolicamente, o objetivo é, pois, manter acesa a chama da cultura nepalesa em Lisboa. O que consegue respeitando as receitas do seu país, com ingredientes originais. “Só não temos búfalo de água”, brinca.
Foi há cerca de 12 anos que Rabin Adhikari escolheu Portugal como destino. Começou por trabalhar em casas de fado, em Alfama, até abrir os seus restaurantes –em Lisboa, além deste, o Oven, e o Nosh, em Alverca, numa parceria com o irmão. No Nepal, já trabalhava em restaurantes, o que explica com um simples “gosto de falar com as pessoas”. O que é mais do que evidente quando se observa as suas movimentações pelo Diyalo.
Conhece bem a comunidade nepalesa: aliás, pode até dizer-se que é um ativista, na medida em que já integrou os corpos diretivos da Non-Resident Nepali Association, o organismo que representa os nepaleses expatriados e que reúne membros de todas as geografias.

E se Rabin Adhikari tem o Nepal no coração, uma visita ao Diyalo é ficar com o Nepal impregnado nos cinco sentidos. A visão, porque a decoração remete para alguns ícones do país; a audição, porque ali se ouvem palavras indecifráveis para um português; o olfato, porque os aromas a especiarias andam no ar; o paladar, pela descoberta de novos sabores e novas texturas; e o tato, porque o convite é para comer com a mão em alguns momentos. Afinal, a par de receitas mais tradicionais, ali serve-se também alguma street food.
É – afirma o empreendedor – “comida autêntica”. Entre os best-sellers estão os momos. São dumplings, que podem ser degustados ao vapor ou fritos, salteados em molho de chilli ou mergulhados em caldo, acompanhados por chutneys tradicionais. Nos dias de maior atividade, saem da cozinha umas cinco centenas.

Igualmente popular é o pani puri: bolinhas de trigo recheadas com batata condimentada com especiarias e um caldo aromatizado. A recomendação é para usar as mãos e comer de uma só vez. Resulta, mas corre-se o risco de o caldo escorrer…
Incontornáveis são os grelhados de carne, com a marinada em iogurte e especiarias a intensificar o sabor.
E porque no Diyalo também se serve comida indiana, ou não houvesse proximidade geográfica e cultural entre os dois países, havia chicken tikka masala para provar – só o molho espesso e cremoso bastaria para satisfazer o palato.
Da Índia chegou igualmente a sobremesa – a clássica bebinca, um bolo em dez camadas que, além de guloso, é um exercício de rigor e delicadeza.
A iluminar esta refeição esteve a cerveja nepalesa – duas variedades, uma mais leve para as entradas e outra mais intensa para os principais. A boa notícia é que não é preciso ir ao Nepal para as comprar, ali mesmo na Avenida Almirante Reis há um paraíso de produtos nepaleses.
Fátima de Sousa