Feliz a fazer os outros felizes. Quando comem o que cozinha. É assim que se sente João Correia, chef do Rossio Gastrobar, em Lisboa. Talvez por isso goste tanto de entrar na cozinha de um amigo e familiar e preparar uma refeição do zero quando ninguém está à espera.
Os olhos também comem? Porquê?
Em primeiro lugar. Porque todos os nossos sentidos são postos à prova quando falamos em comida e, a menos que tenhamos uma prova cega, a visão é o primeiro que deverá despertar a curiosidade e a vontade de provar algo.
O que o atrai primeiro num prato?
Sem dúvida o aspeto, a sensação que este me dá de que o prato foi preparado com atenção e respeito pelo produto.
E o que o faz torcer o nariz?
Olhar para o prato e sentir que não existe ali um pingo de amor nem de respeito pelo produto e pelo processo.
Um chef é um artista?
Penso que sim, na medida em que vejo um artista como alguém que eleva e cria algo de irreverente e marcante usando a sua imaginação e amor pela arte a que se dedica.
Até onde pode ir a criatividade no empratamento?
A criatividade não deverá ter limites, ainda que tenha de imperar o bom senso de dar a capacidade de interpretação ao comensal: não é bom olhar para um prato altamente criativo e não entender o que nele existe; por vezes, criar ilusões traz desilusões.
Até onde vai para experimentar um restaurante?
Até onde a curiosidade me leva. Temos hoje muita informação do que se faz de bom dentro e fora do país, o que provoca uma curiosidade enorme de experimentar. E depois é encaixar nas viagens que vou fazendo.
Consegue despir o chef que há em si e ser “apenas” o cliente?
Acho que o faço muito bem. Dificilmente revelo que sou chef nos sítios que frequento e tenho o máximo de respeito por quem está a cozinhar para mim, não sou difícil de agradar desde que sinta esse carinho pela comida.
Qual a mistura mais improvável que já confecionou?
Diria que juntar peixe e enchidos parece muito improvável e é algo que fazemos com alguma frequência.
O que gosta mais de cozinhar?
Não tenho favoritos. Gosto mesmo muito de cozinhar e adoro criar com o que há. Entrar na cozinha de um amigo ou familiar e fazer uma refeição do zero quando ninguém espera é um momento mágico.
Há algum produto que nunca entrará na sua cozinha?
Claramente insetos. Ainda que possam vir a ter maior impacto no futuro da nossa alimentação.
Fica de água na boca com frequência?
Sim, e na grande maioria das vezes com comida de tacho, acho que está muito ligado às memórias que temos de cheiros e sabores que nos são mais queridos.
O que o define como chef?
O amor e o impacto que tenho na felicidade de quem come o que faço. Sou verdadeiramente feliz a fazer outros felizes.