Devemos ou não voltar aos locais onde fomos felizes? Gastronomicamente falando, devemos. Afinal, nada como uma dose dupla de felicidade. Foi o que aconteceu no regresso ao Don Alfonso 1890 Cascais, para conhecer o chef Ernesto Iaccarino e provar algumas das novidades da carta.
O Don Alfonso 1890 é um restaurante cheio de histórias, com um legado familiar que remonta ao ano que está no nome, numa pequena localidade italiana, entre a península de Sorrento e a costa amalfitana. Histórias contadas, na primeira visita ao restaurante de Cascais, por Mario Iaccarino, responsável por dar continuidade à herança.
Uma responsabilidade que partilha com o irmão Ernesto, o guia desta segunda incursão gastronómica. Veio assumir a cozinha do restaurante de Cascais, introduzindo novos pratos na carta, mas sempre mantendo o espírito de servir cozinha mediterrânica autêntica.

O conceito é transversal aos vários restaurantes da marca pelo mundo – além de Itália e de Portugal, Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Macau –, mas com variações, pois interessa-lhe incorporar os produtos locais. “É como cantar a mesma música, mas com notas diferentes”, comenta.
Daí que em Cascais uma das suas primeiras paragens tenha sido o mercado, para identificar ingredientes para os novos pratos. E para se deixar conquistar, sobretudo, pelo marisco fresco.
Neste regresso à mesa do Don Alfonso 1890, provamos novidades, mas também matamos saudades de alguns pratos da primeira experiência. Assim foi com o lírio fumado, sobre puré de favas cremoso com maionese perfumada de alho cítrico, com molho de iogurte e fusão de cebolinho. E assim foi, igualmente, com o vitello tonnato, isto é, vitela assada lentamente com um molho cremoso de tonnata, salada crocante e bottarga ralada. Confirmaram o porquê de se manterem na carta.


Nos pratos principais, pontuou o linguine, servido com ameijoas salteadas e um fio de azeite de salsa. O que dizer da pasta? Al dente, como se deseja. Com a frescura dos bivalves e um aroma subtil a salsa a libertar-se do prato.
Seguiu-se variazione di maiale, o mesmo é dizer um duo de carne de porco composto por barriga cozinhada lentamente e porchetta frita crocante. Duas texturas ao mesmo tempo contrastantes e harmoniosas a encerrar o jantar.


Na verdade, o fim foi proporcionado por um clássico das sobremesas italianas – tiramisù. Uma dose de indulgência para a qual não é preciso apetite, basta ceder à gula e transformar um pecado num prazer.

Por isso, sim, vale a pena regressar aos locais onde fomos felizes.
Fátima de Sousa